Comecei a escrever este post enquanto voava de volta para São Paulo, uma viagem que dura três horas e pouco. Saí de Belém sentindo na pele o sol e um calor de 32ºC, enquanto a chuva caía em São Paulo, onde os termômetros marcavam 18ºC. Essa diferença climática foi um dos fatores que acentuaram a sensação de estar em uma terra estrangeira. Sentir isso foi importante para assimilar a enormidade do território brasileiro.
Pôr-do-sol na Estação das Docas.
A língua portuguesa mantém presente a ligação territorial, enquanto o sotaque – uma mistura de baiano com carioca -, e as expressões desconhecidas, ressaltam mais uma vez a extensão dessa união. Em Belém, quando a pessoa quer dizer que algo é muito bom, ela diz: “isso é égua!”. Outra boa expressão que escutei foi “suava como um cuscuz!”.
Tacacá, prato típico feito com tucupi, goma de tapioca, jambu e camarão seco.
As ruas emanam os cheiros da cozinha local, bem característicos e indescritíveis em palavras. Cheiros fortes e muito agradáveis para o meu olfato. Todas as pessoas com as quais interagi, nas barracas de comida, nos táxis, no hotel e pelos locais onde circulei, foram simpáticas e solícitas. Deixaram a impressão de que o tempo, relativo que é, não corre ali tão depressa quanto nas capitais do Sudeste. Em cada interação, houve tempo o bastante para escutar com calma, olhar nos olhos, sorrir. Fui acolhida por esse tempo generoso e pude dele usufruir em cada experimentação, nas bancas do Ver-o-Peso, nos balcões onde comi peixe com açaí, no badalado Remanso do Bosque e nas degustações inesquecíveis no Santa Chicória e no Lá em Casa.
Ostra com tucupi e limão galego, no restaurante Santa Chicória.
Arroz com pesto de cheiro verde e uma moqueca maravilhosa e exótica para nós: com pata de caranguejo e ovo de codorna. Também no Santa Chicória.
“Belém é a cidade mais incrível que você ainda não pensou em visitar.”
Essa frase do Riq Freire exprime com precisão meu sentimento após conhecer Belém. Listo abaixo mais dicas do que fazer por lá e torço para que, a partir de agora, vocês comecem a pensar seriamente em visitar essa cidade-universo tão incrível.
Essa tirinha branca que estou mordendo é o Turu, um molusco delicioso encontrado no meio dos troncos de árvores do mangue na Ilha de Marajó.
Em uma primeira ida a Belém, três experiências iniciais me parecem imprescindíveis:
1) Um passeio pelas bancas de frutas no Ver-o-Peso, descobrindo seus nomes e provando cada uma delas;
2) O peixe frito com açaí (que no Louro do Açaí, no próprio mercado, custa R$13);
3) E um mix do Corridinho de peixe e do Menu paraense, ambos no Restaurante Lá em Casa, que fica na Estação das Docas.
Só uma amostrinha do que sugeri no Lá em Casa.
Ponto, a partir daqui você estará minimamente ambientado e, provavelmente, muito deslumbrado.
Casa das Onze Janelas: na antiga residência de um senhor de engenho, vocês encontrarão um espaço cultural e o Boteco das Onze.
Casa D’Noca: gosta de samba? Então vá! Em um antigo casarão, rola um sambinha delícia ao vivo, com público adulto de todas as idades.
Um dos ambientes da Casa D’Noca.
Mangal das Garças: lugar lindo para passear em um final de tarde na companhia de garças, flamingos, borboletas e arara azul.
Vista do mirante no Mangal das Garças.
Cairu sorveteria: na sorveteria mais famosa da cidade, há uma infinidade de sabores locais. Eu me apaixonei pelo Carimbó, que é feito com castanha-do-Pará e doce de cupuaçu. <3
Esse é um dos muitos Carimbós que tomei, na sorveteria Cairu.
Ilha do Combu: chega-se de barco e é interessante para entendermos um pouco as construções ribeirinhas. Vale o passeio na plantação de cacau da Nena, do Combu Orgânico, onde é possível agendar um café da manhã tipicamente paraense, conhecer sua produção de chocolate e, claro, comprar muito brigadeiro de colher e bombom de cupuaçu.
Para estender o passeio, uma parada na Saldosa Maloca para almoçar ou petiscar.
Essa é a Nena me entregando seu divino brigadeiro de cacau orgânico. <3
Chocolate 100% cacau embalado na folha do cacaueiro.
Meu Garoto: trata-se da marca mais conhecida de cachaça de jambu. Quem curte cachaça diz que a usada por eles é de péssima qualidade, mas eu, que não gosto de cachaça, recomendo pela experiência de levar à boca uma bebida que adormece os lábios. Na loja há uma diversidade de bebidas etílicas com ingredientes locais.
Mercado Ver-o-Peso: o ideal é pela manhã; quanto mais cedo, melhor. É um lugar para passear sem pressa pelas bancas de frutas, descobrir seus nomes e pedir uma provinha.
Jambu, uma preciosidade da gastronomia paraense que adormece a boca.
Para mim, quase tudo era exótico. Experimentar a castanha-do-Pará verde e recém-descascada (ela chega torrada para nós pois é muito perecível) foi uma experiência inesquecível.
Castanha-do-Pará descascada na hora.
Depois, as bancas das farinhas, um prato cheio para os curiosos. Ache um vendedor sorridente e pergunte o processo de produção e as características de cada uma delas. De lá, encante-se com os camarões secos de vários tamanhos e com os peixes salgados de muitas espessuras e preços.
A seguir, perfumes, ervas e garrafadas que prometem curar todos os males.
Esqueci seu nome, mas esse simpático vendedor explicou a função de cada garrafinha.
Por fim, mas que na verdade deve ser o início, o mercado de peixes, recheado de espécies de água doce que dificilmente encontramos fora do Norte.
Quando bater a fome, recomendo a barraca do Louro do Açaí para experimentar um filhote fresquinho, frito na hora, acompanhado de açaí e farinha de tapioca.
Essa refeição foi no Point do Açaí.
Do ladinho do Mercado Ver-o-Peso está a Estação das Docas, lugar agradabilíssimo seja apenas para contemplar a paisagem, para beber as cervejas com ingredientes regionais da Amazon Beer, para experimentar os muitos sabores de sorvete da Cairu e para, impreterivelmente, fazer uma refeição no Restaurante Lá em Casa.
A primeira refeição paraense que fiz, no Lá em Casa. Saudade é pouco.
O post Festival Ver-o-Peso da cozinha paraense #2 pertence ao DigaMaria.