Decidi não comemorar meu aniversário em 2015. O ano foi de socialização do início ao fim, maravilhoso. Mas quando finalmente aterrizei em casa no mês passado, senti que já havia conhecido lugares e pessoas e feito brindes suficientes pelo ano todo. Combinei com minha irmã que tomaríamos um belo café da manhã juntas e que essa seria a medida perfeita de celebração.
Numa quinta-feira, dia 19 de novembro para ser específica, fui preparar uma posta de peixe que eu havia deixado descongelando e, para minha surpresa, descobri que tratava-se de uma cabeça (sempre congelo a cabeça dos peixes que compro para fazer caldo). Ok, ― pensei ― faço um caldo para mais adiante preparar um cuscuz paulista. Abri a geladeira em busca de outra opção para o almoço e enxerguei tomatinhos e pimentões super maduros, naquele ponto que durariam mais um ou dois dias no máximo. Adiei novamente o almoço para picá-los e levá-los ao forno: logo sairia dali uma conserva de pimentões assados. Porém, nesse momento percebi que faltava exatamente uma semana para o meu aniversário. Olhei a panela no fogão, a travessa no forno e pensei: comecei a preparar as comidinhas da festa. E com sorriso de quem reconhece e ama sua essência festeira, peguei o celular e escrevi para os amigos.
“Queridos, eu não ia comemorar meu aniversário, no próximo dia 26. Mas, quando dei por mim, já estava iniciando o preparo. Então, na próxima quinta-feira, às 20h, espero vocês aqui em casa. Tragam seus sorrisos e o que quiserem beber. Destilados têm aqui para quem quiser fazer drinks. Estendam o convite a seus pares e filhos. Beijo e até breve.”
Conserva de camarão
Cuscuz paulista com camarão e sardinhas defumadas
Espetinho de maçã caramelada com linguiça Blumenau cozida na cerveja
Pickles de melancia
Escolhi receitas que pudessem ser preparadas com antecedência e fiz tudo com calma: pickles de melancia, camarões em conserva, maçã caramelada com linguiça cozida na cerveja, cuscuz paulista, ovinhos de codorna com molho de mostarda trufada e amendoim com mel e páprica (as que fotografei decentemente virão para o blog).
No dia, ganhei de presente a presença de uma fadinha, chamada Habiba, que passou a tarde comigo na cozinha. Ela fez uma caponata de berinjela deliciosa e uma versão de bolo de cenoura com cream cheese, pouco conhecida por aqui, mas tradicional em outros países. Arrumamos uma mesa bem linda, com folhas de bananeira, flores e velas. Logo os amigos chegaram com seus sorrisos e afetos e a noite seguiu radiante.
Habiba, o bolo e eu
No dia seguinte, acordei pensando na Habiba, e também no Jorge e na Laís, duas outras pessoas que passaram por aqui este ano e me mimaram. Lembrei de um café da manhã preparado por eles, e que quando terminou, sentei na poltrona e disse: gente, já, já tiro a mesa. Em resposta, escutei “Não vai tirar nada, hoje você vai ser servida.”. Revivi cada um dos momentos com eles e o bem-estar proporcionado. Sem pensar, tive a certeza que os grandes presentes que recebi no mês do meu aniversário vieram em forma de experiências. O mágico foi saber que muitas vezes eu proporciono experiências assim para outras pessoas. E o aprendizado, mais sentido que elaborado, foi que o ciclo só está completo quando nos permitimos receber o que damos.
Agradeço aos amigos antigos por todo amor que sempre trocamos. Aos mais recentes, por me ensinarem que amizades verdadeiras, cheias de empatia e solidariedade, podem nascer da noite para o dia. E aos novos, novíssimos na realidade, estou imensamente grata pelo afeto, pela ternura e pelo brilho no olhar.
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